PRECONCEITO LINGUÍSTICO E A GRAMÁTICA NORMATIVA: A QUESTÃO BRASILEIRA

Autores

  • Felipe Bresolin Uninter - Polo Passo Fundo - RS

DOI:

https://doi.org/10.22169/cadernointer.v14n52.3555

Resumo

O presente trabalho trata da questão do preconceito linguístico dentro do contexto brasileiro atual, de como esse fenômeno nasce a partir de uma noção ingênua e anticientífica de que a língua portuguesa é homogênea e que, por conseguinte, haveria uma forma certa/errada de se usar a língua, confundindo-se a alternativa correta com o que se encontra prescrito nas gramáticas normativas: a norma-padrão. A partir daí, busca-se compreender o que vem a ser efetivamente essa norma ligada à tradição e considera-se, à luz da Sociolinguística, a língua dos brasileiros em suas variedades prestigiadas e estigmatizadas. Assim, analisa-se um dos casos mais comuns de uso “errado” da língua portuguesa associado ao senso comum e causador de preconceito linguístico de norte a sul do país: o da concordância de número. Por fim, reflete-se sobre o papel central da escola no combate à discriminação baseada no preconceito linguístico, a qual deve trazer ao conhecimento dos alunos, de maneira pedagógica, reflexões à luz da Sociolinguística. Ou seja, de que as línguas são essencialmente heterogêneas, que a variação linguística é um fenômeno natural inapelável, que as variedades estigmatizadas possuem uma lógica linguística como qualquer outra e estão intrinsecamente ligadas à identidade dos seus usuários, logo, as diferenças nos usos linguísticos devem ser admitidas como genuínas e valorizadas como riquezas. De maneira que, se faz imprescindível, no ensino da língua portuguesa nas escolas brasileiras, a mudança do paradigma certo/errado para o de adequado/inadequado de acordo com o contexto de produção. Este estudo concebe a língua como fato social.

Palavras-chave: preconceito linguístico; norma-padrão; norma culta e variedades estigmatizadas; ensino de língua portuguesa.

Abstract

This paper addresses the issue of linguistic prejudice within the current Brazilian context, focusing on how this phenomenon arises from a naive and unscientific notion that the Portuguese language is homogeneous and that, consequently, there is a right or wrong way to use it. This misconception often equates the “correct” form with what is proposed by prescriptive grammar: the standard norm. From this perspective, the study seeks to understand what this tradition-bound norm truly represents and, through the lens of Sociolinguistics, considers the language of Brazilians in both its prestigious and stigmatized varieties. Considering this, this study analyses one of the most common cases of “wrong” use of the Portuguese language associated to the common sense and cause of linguistic prejudice throughout the country: the number agreement. Finally, the paper reflects on the central role of schools in combating discrimination based on linguistic prejudice. It argues that students should be pedagogically introduced to reflections grounded in Sociolinguistics, such as the understanding that languages are inherently heterogeneous, that linguistic variation is a natural and inevitable phenomenon, and that stigmatized varieties possess their own linguistic logic and are deeply tied to the identity of their speakers. Therefore, differences in language use should be recognized as genuine and valued as cultural assets. It is thus essential that Portuguese language teaching in Brazilian schools shifts from a right/wrong paradigm to one of appropriate/inappropriate based on the context of communication. This study views language as a social fact.

Keywords: linguistic prejudice; standard norm; educated norm and stigmatized varieties; Portuguese language teaching.

Resumen

El presente trabajo aborda la cuestión del prejuicio lingüístico en el contexto brasileño actual, es decir, cómo este fenómeno surge a partir de una noción ingenua y anticientífica de que la lengua portuguesa es homogénea y que, por lo tanto, existiría una forma correcta/incorrecta de usarla, confundiendo la alternativa correcta con lo que está prescrito en las gramáticas normativas: la norma estándar. A partir de ello, se busca comprender qué es realmente esta norma ligada a la tradición y se considera, a la luz de la Sociolingüística, la lengua de los brasileños en sus variedades prestigiosas y estigmatizadas. Así, se analiza uno de los casos más comunes de uso “incorrecto” del portugués asociado al sentido común y causante de prejuicio lingüístico de norte a sur del país: la concordancia de número. Finalmente, se reflexiona sobre el papel central de la escuela en la lucha contra la discriminación basada en el prejuicio lingüístico, la cual debe presentar a los alumnos, de manera pedagógica, reflexiones desde la perspectiva de la Sociolingüística. Es decir, que las lenguas son esencialmente heterogéneas, que la variación lingüística es un fenómeno natural e inevitable, que las variedades estigmatizadas poseen una lógica lingüística como cualquier otra y están intrínsecamente ligadas a la identidad de sus hablantes. Por lo tanto, las diferencias en los usos lingüísticos deben ser admitidas como genuinas y valoradas como riquezas. De este modo, se hace imprescindible, en la enseñanza del portugués en las escuelas brasileñas, el cambio del paradigma correcto/incorrecto al de adecuado/inadecuado según el contexto de producción. Este estudio concibe la lengua como un hecho social.

Palabras clave: prejuicio lingüístico; norma estándar; norma culta y variedades estigmatizadas; enseñanza del portugués.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Felipe Bresolin, Uninter - Polo Passo Fundo - RS

Bacharelando em Língua Portuguesa no Centro Universitário Internacional – UNINTER

Referências

ABRAÇADO, J. Entrevista com Maria Marta Pereira Scherre sobre preconceito linguístico, variação linguística e ensino. Cadernos de letras da UFF: preconceito linguístico e cânone literário, Niterói, n. 36, p. 11-26, 2008. Disponível em: http://moodle.stoa.usp.br/file.php/1054/textos/Norma_e_Ensino/SCHERRE_entrevista.pdf. Acesso em: 04 jun. 2025.

BAGNO, M. A língua de Eulália. 17. ed. São Paulo: Contexto, 2022.

BAGNO, M. A norma oculta. 5. ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2006.

BAGNO, M. Preconceito linguístico. 56. ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2015.

BAGNO, M. Português ou brasileiro? um convite à pesquisa. São Paulo: Parábola Editorial, 2021.

BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. 38. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 2015.

BRASIL, Ministério da educação e do desporto. Parâmetros curriculares nacionais: língua portuguesa. Brasília. DF: MEC/SEF, 1997.

CALVET, L-J. Sociolinguística: uma introdução crítica. 2. ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2021.

CECATO, C. Introdução aos fundamentos teóricos da linguística. Curitiba: Intersaberes, 2017.

GALINDO, C. W. Latim em pó: um passeio pela formação do nosso português. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.

GALINDO, C. Norma culta deveria ser flexibilizada, diz autor de Latim em pó. [Entrevista concedida a] Ricardo Balthazar. Revista Pesquisa Fapesp, ed. 329, jul. 2023. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/norma-culta-deveria-ser-flexibilizada-diz-caetano-galindo-autor-de-latim-em-po/. Acesso em: 26 out. 2023.

MOLLICA, M. C.; BRAGA, M. L. (orgs.). Introdução à sociolinguística: o tratamento da variação. São Paulo: Contexto. 2021.

OCDE - Organização para Desenvolvimento Econômico. Um elevador social quebrado? Disponível em: https://www.oecd.org/brazil/social-mobililty-2018-BRA-PT.pdf. Acesso em: 04 nov. 2023.

Downloads

Publicado

2025-07-07